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Máxima Arte. Mínima Arte. As escalas da arte

  • Maria Izabel Branco Ribeiro FAAP/SP
  • 3 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Máxima Arte. Mínima Arte. As escalas da arte

Definido como a relação entre a parte com o todo, o conceito de proporção pode ter como referência as partes de um único corpo ou as desse corpo com seu entorno.

Refletir sobre a proporção,fundamenta questões sobre a percepção da harmonia das formas ou do impacto causado pelo que é entendido como seu desequilíbrio. Dois recursos utilizados pelos artistas, desde longa data para motivar seu público.

Tristan Manco em Máxima Arte. Mínima Arte. As escalas da arte reúne obras que têm em comum a discussão da escala. Ou seja: trabalhos cujas diversas partes em sua maioria mantêm internamente um mesmo sistema de proporções e estabelecem com o seu entorno, padrão diverso daqueles a que seus referenciais pertencem – denúncia evidente de constituírem simulação. Discute aspectos desse confronto nos dois extremos da escala – obras de grande tamanho e diminutas -, seu impacto no processo perceptivo e nas reações do observador.

Na obra em questão, Manco alude ao fato de que nas últimas décadas, as mudanças trazidas pela tecnologia e pelo mundo digital e se refletem no uso do espaço e nas atividades culturais. Uma delas é a competição entre instituições. Como parte dessa inevitável disputa por visibilidade aponta para o surgimento de espaços culturais de tamanho “colossal” destinados à ampliação de coleções permanentes de obras de arte e para a execução de projetos temporários, ambos de grandes dimensões.

Muito dessa abordagem está relacionado com sua experiência com a street art.Associa as obras em grande escala com a arte pública, destacando serem compartilhadas por vasto número de pessoas, seu caráter espetacular e seu potencial de interferirem na paisagem. Atribui que a atração que exercem, está relacionada a permitirem que o público as percorra e tenha atitude de imersão, consequentemente, postura participativa e experiências em maior grau, sejam elas sensoriais, de impacto, estranhamento ou lúdicas. Instrumentos que podem ser de valia, para propostas artísticas, que também trabalhem questões filosóficas e sociais.

Considera o tamanho como aspecto distintivo nessa categoria de obras, porém enfatiza que elas têm em comum também a potência de expandir o olhar do público sobre a realidade.Não só pela intervenção óbvia que fazem, mas pela diversidade de materiais,procedimentos, equipes.

Apresenta 24 artistas contemporâneos, alguns com projetos já clássicos, outros ainda pouco conhecidos. Entre eles destaco:Jaume Plensa, autor da Crown Fontain , 2004, em Chicago, em que dois telões de vídeo gigantescos apresentam consecutivamente rostos de 1000 habitantes da cidade cuspindo continuamente jatos d´água. O artista-engenheiro holandês Theo Jansen, autor de animais de grande porte, construídos com tubos plásticos, braçadeiras e fios de nylon, capazes de se deslocarem movidos pela energia eólica. A japonesa Fujiko Nakaya, idealizadora de instalações com efeitos meteorológicos, em colaboração com o físico de nuvens Thomas Mee. O cubano radicado nos EUA, Jorge Rodriguez-Gerada, interessado na criação de retratos de grande porte como meio de discussão de questões sociais, alguns vistos com plenitude apenas em fotografias aéreas. O coletivo espanhol Boa Mistura, com trabalho social, aqui exemplificado pela intervenção feita com cores e palavras na Vila Brasilândia, zona norte da cidade de São Paulo.O argentino Leandro Erlich e o francês Jean-François Fourtou,autores de estruturas arquitetônicas, em que o uso do trompel´oeil e espelhos sugerem a anulação de leis da física.

Tristan Manco apresenta como contraponto dessas propostas, a ideia de sermos apenas parte diminuta, se comparados ao restante do mundo. Denomina esse outro extremo de Mínima Arte e afirma que embora os pequenos detalhes, não tenham o impacto da magnitude, propõem desafios para a percepção e se prestam para o desenvolvimento de conceitos, que são acentuados pela diferença de escala. Nelas o visitante não mais mergulha ou participa da obra, mas é um voyeur, que observa a situação “miniaturizada, congelada no tempo”. Distingue que além do apelo emocional despertado pelo caráter lúdico da miniatura, nessas obras a atenção do observador é capturada pelo: verismo das situações em pequeno formato; virtuosismo do trabalho manual; emprego de materiais insólitos, uso de objetos cotidianos e ícones familiares em associações inesperadas; a variedade de procedimentos e materiais; a desconexão entre representação e o representado.

São vinte e dois os artistas selecionados por Manco. Entre eles:O vietnamita radicado nos EUA Diem Chau, autor de narrativas esculpidas em pontas de lápis e crayons; o espanhol Lorenzo Manoel Durán criador de cenas recortadas com bisturi em folhas de árvores pelo; a fotógrafa americana Nancy Fouts interessada em registrar de objetos híbridos, à maneira de pequenas esculturas surrealistas;O canadense Guy Laramée, interessado em discutir a erosão do conhecimento e a obsolescência do livro em esculturas de paisagens a partir de livros usados.

Tristan Manco nessa publicação traz um conjunto de produções recentes. Discorre sobre obras de arte nos dois extremos da escala, suas relações com o público e suas possibilidades de ampliação da percepção. Desenha em traços largos o panorama da cena contemporânea, em texto de linguagem dinâmica, porém carente de tradução cuidadosa.

É composta por cadernos identificados por cores intensas, contendo dois ensaios concisos definindo as categorias, perfis esclarecedores de artista e farto material fotográfico sobre suas obras.Sua ênfase está nos desafios para o olhar existentes nos dois extremos da escala,as razões que as tornam atraentes e seu potencial para ampliarem a percepção da realidade. Acende em seu leitor o interesse em investigações mais detalhadas sobre custeio, mecenato e conservação dessas obras e maiores detalhes sobre suas relações com o público.


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