top of page

Um novo olhar sobre a arte brasileira


"O Brasil não começou a pintar com a missão Francesa, mas com os índios, dizem os ensaístas”

 

Recentemente lançado, o livro organizado por Fabiana W Barcinski, foi apresentado no Caderno 2 do jornal Estadão (mar/2015) de modo instigante: A arte virada ao avesso e não menos incitante com este enunciado: “o Brasil não começou a pintar com a missão Francesa, mas com os índios, dizem os ensaístas”

Com o registro de gravuras rupestres e artefatos indígenas, é legítimo falar em arte Brasileira com características próprias e espaços definidos?

A tais indagações no texto dos ensaístas, soma-se a assertiva de que tampouco o concretismo ou a arte experimental dos anos 1960 são frutos da clonagem da arte estrangeira, em artigos conjugados por períodos histórico-estéticos. É o que mostra o livro, que traz um capítulo sobre a arte popular, prova da riqueza e diversidade brasileira. Assim, a obra convida o leitor para uma reflexão sobre a importância do patrimônio cultural brasileiro e sua difusão.

Trata-se de um novo olhar pelo qual especialistas respondem estética-historicamente ao regarder sobre objetos artísticos, através de uma sequência linear, sob o ponto de vista de uma História Social da Arte Brasileira. Por ser um lançamento recente – abril/2015 – julgamos viável confrontá-la com a maioria das obras cuja tradição propõe contar a história cronológica da arte, enquanto Sobre a arte brasileira, de Barcinski (2015) ancora-se no contexto de produção político e social.

Barcinski (2015) mergulha os textos artísticos organizados por ela na nossa pré-história da arte. Há um texto inicial fundamental para a leitura e posicionamento social da produção artística: “Para uma história (social) da arte brasileira” (ALAMBERT, p. 6-20). A partir desse, outros marcantes de períodos temporais político-econômicos alicerçam a historiografia da produção artística: “Arte pré-histórica no Brasil: da técnica ao objeto” (PESSIS; MARTIN, p. 22-61); “O olhar estrangeiro e a representação do Brasil” (PICCOLI, p. 62-94); “Maneirismo, barroco e rococó na arte religiosa e seus antecedentes europeus” (OLIVEIRA, p. 96-135); “Arte e academia entre política e natureza (1816 a 1857)” (DIAS, p. 136-173); “A arte no Brasil entre o segundo reinado e a belle époque” (MIGLIACCIO, p. 174-231); “Modernismo no Brasil: campo de disputas” (SIMIONI, p. 232-263); “Concretismo” (VILLAS BÔAS, p. 264-293); “Os anos 1960: descobrir o corpo” (BRAGA, p. 294-323); “Arte popular” (LIMA, p. 324-345).

Assim, comparados períodos temporais nos textos, qual seria o resultado: em obras que abordam a arte pela história cronológica, no século XIX: o Impressionismo, Pontilhismo, Expressionismo, no Brasil; em Barcinski (2015), 1816 a 1857: arte e academia entre política e natureza, com a assistência da missão francesa e seus articuladores; já, a partir do segundo reinado, têm-se algumas alterações estéticas com a pintura de Vitor Meirelles, “A primeira missa no Brasil” e “Moema”; de Pedro Américo, “A batalha de Guararapes” e “Batalha do Avaí”; há, ainda, a considerar a fuga temática de Belmiro de Almeida, em “Arrufos”; de Agostinho José da Motta, “Natureza morta com frutas”; de José Ferraz de Almeida Jr., “Caipira picando fumo” e “O importuno”; de Rodolfo Amoedo, “Marabá”. Os temas burgueses, indianistas e históricos corroboram os literários dos nossos poetas e romancistas do romantismo.

Chega-se ao Modernismo, ao Concretismo, aos anos 1960, à arte popular que fecha o volume de Barcinski (2015), onde cada um deles é tratado em capítulos e analisados por autores diferentes.

De certa forma, Barcinski (2015) é “a arte virada ao avesso” que revê, com outros olhares, a Arte Brasileira desde seus primeiros objetos estéticos até 1960, fundamentada na formação do estado brasileiro e nos cânones da Arte Ocidental e desmistifica seu nascimento com a vinda da missão francesa, em 1916, tampouco o concretismo ou a arte experimental da segunda metade do século são apropriações da arte estrangeira.

Com esse enfoque, a obra joga luzes na riqueza e diversidade da arte popular brasileira.

Assim, enquanto a maioria das obras propõe contar a história cronológica da arte, Barcinski (2015) dessolda a cortina que encobria a brasilidade artística; de modo que as primeiras analisam a arte a partir dos artefatos produzidos, pela cronologia, esta resenhada discute a arte a partir de suas condições de produção, pela cultura.

bottom of page